A falácia da liberdade de expressão
- Samuel Feldberg
- há 6 dias
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Atualizado: há 3 dias
Publicado por Folha de São Paulo
Por que apoiadores de um grupo terrorista deveriam ter o direito de hostilizar seus colegas e impedi-los de frequentar a universidade?
A mídia tem estado lotada de artigos e postagens sobre as perseguições sofridas por estudantes estrangeiros nos Estados Unidos, que foram presos “arbitrariamente” e estão sujeitos à deportação para seus países de origem.
Questionado, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, deu a seguinte declaração: “Se ao apresentar o pedido de visto de estudante o aluno declarar que é um ardoroso apoiador do Hamas, um grupo assassino que sequestra crianças, estupra garotas adolescentes, sequestra reféns e devolve mais corpos que reféns vivos, o seu visto será negado. E também se for declarado que o estudante anda nos atos para hostilizar estudantes judeus e promover atividades antissemitas. E se o visto tiver sido concedido, e o estudante se envolver nessas atividades, o visto será cancelado”.
E continua: “Não é uma questão de liberdade de expressão. Essas pessoas não têm o direito de estar aqui. Estas ações são uma resposta a atos de vandalismo, cumplicidade com o bloqueio a instituições de ensino, impedindo outros alunos de estudar. E quando isto acontece temos o direito de revogar o visto e expulsar os responsáveis”.
As palavras de Rubio refletem o confronto entre a liberdade de expressão e o direito de ir e vir. Por que apoiadores de um grupo terrorista deveriam ter o direito de hostilizar seus colegas e impedi-los de frequentar a universidade? Por que não deveriam ser dispersadas manifestações que promovem o slogan “do rio ao mar”, quando é notório que este se refere à eliminação do Estado de Israel e de sua população judaica? Por que deveria ser tolerada a ideia de que um judeu portando um solidéu ou vindo de Israel deve avisar um legítimo de violência física em uma universidade?
Ao longo do último ano e meio, cursos que abordam Israel têm sido boicotados, e professores que são vistos como sionistas têm sido impedidos de dar aulas e participar de congressos, numa total negação do conceito de “liberdade de expressão”.
Uma das mais respeitadas universidades norte-americanas, Brown, resolveu se posicionar excluindo mapas escolares utilizados nos primeiros anos que indicavam aos alunos no país, define Israel como um Estado colonial, Tel Aviv como a capital do país (que é Jerusalém) e o Hezbollah como um “grupo militante”, tendo eliminado qualquer referência sobre as declarações genocidas do Irã em relação a Israel.
E esse é apenas um sintoma de como grande parte das mais importantes universidades dos Estados Unidos tem lidado com a legitimidade de Israel e manifestações antissemitas, por mais que a lei as obrigue a proteger seus estudantes judeus, como a qualquer minoria.
Esconder-se por trás da Primeira Emenda para promover a hostilização de judeus nos campi e o boicote a instituições educacionais israelenses, alegando diversidade e inclusão, me lembra a história de um liberal radical que decidiu organizar um jantar que incluísse e atendesse a todos: carnívoros e vegetarianos, veganos, amantes de peixes e frutos do mar, celíacos e alérgicos a todo tipo de comidas. E então alguém lembrou que, se todos deveriam ser incluídos, deveriam convidar também os canibais. Mas, quando somos chamados para um jantar, sempre queremos saber se nossa carne não está incluída no menu.
Liberdade de expressão é fundamental, mas não quando atenta contra a liberdade individual do próximo.
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Samuel Feldberg é diretor acadêmico do StandWithUs Brasil, doutor em Ciência Política pela USP, professor de Relações Internacionais, Pesquisador do Centro Moshe Dayan da Universidade de Tel Aviv e fellow em Israel Studies da Universidade de Brandeis.
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